A atividade da bovinocultura leiteira, assim como qualquer ramo da pecuária, tem exigido que o produtor busque melhorias constantes, pensando nos resultados técnicos e econômicos. Para isso, os produtores de leite têm buscado encarar a atividade de forma mais profissional, inclusive com a assessoria mais frequente de técnicos que possam ajudá-los em tomadas de decisão para obterem resultados produtivos e econômicos cada vez maiores.
Porém, é essencial que haja um equilíbrio entre alta produtividade, longevidade de rebanho e resultados econômicos para viabilizar a atividade.
Nos dias de hoje, com a grande disponibilidade de alternativas no mercado de nutrição animal, os técnicos que se mantêm atualizados têm maior capacidade de proporcionar tais resultados aos produtores e, obviamente, os dois lados devem trabalhar juntos (produtor e técnico).
Custos alimentares
Como os dois principais ingredientes de uso em alimentação de bovinos leiteiros utilizados nas rações são o farelo de soja (fonte proteica) e o milho (fonte energética), devido às significativas altas sofridas nos custos dos mesmos no último ano, o impacto foi imediato no mercado de rações. Portanto, os custos com alimentação do rebanho têm sido ainda mais impactantes nos resultados, aumentando as buscas por alternativas que proporcionem economias no processo produtivo. Porém, devem ser tomadas medidas que não causem comprometimento no desempenho final dos animais.
O que posso fazer?
Dentre as alternativas que temos no ramo de alimentação de bovinos, podemos citar alguns alimentos chamados de co-produtos que podem proporcionar ótimos resultados, inclusive em termos financeiros.
Alguns exemplos podem ser: polpa cítrica, casquinha de soja, farelo de algodão, caroço de algodão, dentre outros. E, como estamos em um país de grande produção de milho, nos últimos anos o mercado tem disponibilizado outra nova alternativa, que é o DDG (Dried Distillers Grains – Grãos Secos de Destilaria) um co-produto da indústria do etanol que, sendo bem utilizado, pode trazer ótimos resultados. Ele possui um teor de proteína bruta que pode variar desde os 28 aos 40%. Além disso, possui um valor energético bastante interessante. Contudo, como qualquer ingrediente, deve ser utilizado com critério técnico, pois não podemos, por exemplo, simplesmente fazer uma “troca” do farelo de soja pelo DDG, devido a fatores que podem ser discutidos em outra oportunidade.
Descrição dos dois principais co-produtos utilizados em bovinos leiteiros
Polpa cítrica
O Brasil é o maior produtor de laranja do mundo. Com isso, a produção de sucos proporciona a geração de volume significativo de seu resíduo, que é a polpa cítrica, sendo um ingrediente classificado como energético e que possui qualidades bastante interessantes na sua composição, como ótimo sabor e digestibilidade. A polpa cítrica pode ser utilizada, por exemplo, nas chamadas “dietas quentes” onde temos alto teor de amido que está presente na maioria das dietas da atividade leiteira, já que os principais ingredientes energéticos da mesma são o milho e a silagem de milho. A polpa cítrica é rica em pectina, um carboidrato que pode contribuir na qualidade de ambiente de rúmen, proporcionando efeito tampão (auxilia no controle da acidose ruminal, ou seja, proporciona maior chance de manter Ph dentro dos padrões). Devido à qualidade nutricional da pectina da polpa cítrica, que possui grande capacidade de retenção de água, este alimento pode inclusive proporcionar economia de alimentação volumosa (silagens de milho, de sorgo, cana).
Caroço de algodão
Este é classificado como um ingrediente proteico, pois possui entre 20% e 22% de proteína bruta. Trata-se de um dos ingredientes mais utilizados pelos nutricionistas, devido suas ótimas características nutricionais. Além do teor proteico, possui alto valor energético (alta concentração de óleo, densidade energética elevada), além de agir como fibra alimentar, formando o chamado “mat” ruminal, o que pode proporcionar ótimos resultados no rebanho. Porém, sempre deverá ser utilizado com critério, principalmente pelo alto teor de óleo na composição.
Casca de soja
A casca de soja (ou casquinha de soja) é outro co-produto que pode ser empregado na nutrição de bovinos leiteiros, com resultados interessantes, assim como os demais ingredientes citados, desde que utilizado em dietas bem balanceadas.
O Brasil é o segundo maior produtor mundial de soja. Por isso, também temos grandes possibilidades de uso desse co-produto na nutrição de bovinos leiteiros devido a características como: boa palatabilidade, teor de proteína um pouco acima do milho (entre 10% e 13% na matéria seca), baixo teor de amido (podendo, neste caso, reduzir um pouco o teor deste nutriente nas dietas com alta inclusão de milho). Apesar de alto teor de FDN (fibra) esta é de boa digestibilidade, pois tem baixos teores de lignina. Com isso, o seu uso em substituição parcial das fontes energéticas, como o milho e o sorgo pode ser uma ótima alternativa.
Conclusão
Os co-produtos podem ser uma ótima opção na nutrição de bovinos leiteiros. Para isso, é essencial uma boa assessoria de um nutricionista de confiança do produtor, para adequar seu uso da melhor forma e de acordo com a necessidade existente na propriedade, seja ela aumento de produção, aumento de teor de sólidos no leite, ou mesmo economia de alguns ingredientes das dietas.
Cláudio Henrique Oliveira de Carvalho, Responsável técnico das rações Coopercitrus em Araxá e Cássia, MG