A importância da organização financeira no sucesso dos empreendimentos, nas mais variadas áreas de atuação, não é uma novidade, sejam eles rurais ou urbanos. De fato, trata-se de um tema relativamente conhecido, debatido em livros, artigos acadêmicos, palestras e mesmo no jornalismo cotidiano, nos jornais e nas mídias sociais. Mesmo que se alegue algum grau de desconhecimento das práticas específicas ou técnicas de organização das finanças – o que pode ser verdade – a maior parte dos empresários sabe que é importante organizar-se financeiramente. A pergunta que fica, então, é a seguinte: se é reconhecida essa importância, por que é tão difícil organizar-se? Por que encontramos, ainda, tantos empresários, de diferentes portes, com variados perfis pessoais e com clara capacidade técnica tendo tantas dificuldades de organizar-se na perspectiva da gestão (como um todo) e das finanças (em particular)? Essas são perguntas objetivas, mas que têm respostas e causas complexas e variadas. Hoje, vamos conversar apenas sobre algumas delas.
De início, é preciso reconhecer que, em nosso país, ainda carecemos de uma cultura de gestão financeira e organizacional. Desde crianças, independentemente de nossos futuros profissionais, no conjunto das práticas educacionais somos estimulados a algumas condutas e ao desenvolvimento de algumas habilidades sociais, mas poucos têm, de fato, uma boa educação financeira. Na realidade, seria importante que junto aos conteúdos programáticos tradicionais escolares houvesse a inserção de temas transversais importantes ao desenvolvimento de capacidades humanas, entre elas a educação financeira. Educar-se financeiramente é muito importante; é como aprender um idioma novo que nos permite compreender adequadamente conceitos, procedimentos e um tipo de comunicação específica, fundamental aos dias atuais.
Além disso, empreendimentos são geridos por pessoas, cujos aspectos racionais e emocionais convivem na hora de uma tomada de decisão. Sem treinamento adequado ou reflexão, essas decisões podem ser bastante equivocadas. Quando se trata de questões pessoais, por exemplo, e predominam, na decisão individual, a impulsividade e, ou, o consumismo, tão típicos de nossos dias, um resultado conhecido é o endividamento, ou mesmo a inadimplência. Quando se trata de decisões empresariais, entretanto, os riscos se ampliam.
Se, por um lado, é preciso reconhecer que os tomadores de decisão podem, ou não, valorizar atributos gerenciais e financeiros, por outro é preciso que tenha consciência dos desdobramentos de sua conduta. Muitas vezes, o próprio desconhecimento do peso da organização na saúde financeira e na rentabilidade, ou mesmo a incapacidade de lidar adequadamente com tais questões, faz com que o empresário diminua mentalmente essa importância – o que não implica em que isso de fato aconteça. As consequências desse comportamento podem ir desde a redução do potencial de rentabilidade do negócio (efeito comum), até a perda do controle financeiro da empresa ou mesmo a incapacidade de sua sobrevida.
Para aqueles de nós que não estão acostumados à organização financeira, mudar pode ser desafiador. Na verdade, pode ser um processo até mesmo doloroso, já que expõe, eventualmente, situações complicadas de lidar. E, sim, organizar e manter organizado é trabalhoso, às vezes muito trabalhoso. Isso vale para tudo em nossas vidas: armários e gavetas, vida pessoal, finanças, empreendimentos. Mas defendo veementemente que organizar vale à pena!
Quando organizamos é possível identificar erros e acertos, enxergar mais claramente os problemas, os pontos frágeis, onde podemos melhorar. Além disso, a organização evita retrabalho e impede gastos desnecessários; em síntese: facilita enxergar a realidade (sempre o primeiro passo) e favorece a capacidade de planejamento. No caso da organização financeira, ela é essencial para compreender os fluxos financeiros, analisar as escolhas potenciais, criar objetivos realistas e metas de gastos, com impactos positivos na rentabilidade da empresa e na saúde global da mesma.
Por isso mesmo, fica aqui o convite à reflexão de cada um dos leitores desse breve artigo: estamos nos dedicando à organização financeira de nossas empresas? Temos tido o zelo e o cuidado necessários à escolha das melhores formas de preservação e, ou, investimento? Tratamos os aspectos gerenciais da empresa com o mesmo cuidado e compromisso que dedicamos ao conhecimento técnico? Se sim, parabéns! Se não, que tal abrir espaço mental para esse movimento? Ele pode te surpreender, e muito.
Por Viviani Silva Lirio, Professora Titular do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa (DER/UFV), Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, (PPGEA/UFV)Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável (IPPDS/UFV)