A produção de tomate (Lycopersicon esculentum Mill) no Brasil se destaca como importante atividade agrícola para pequenos e médios produtores. A cultura dispõe de uma área plantada de aproximadamente 62mil ha, com uma produção em torno de 4,2 milhões de toneladas, produzindo em média de 68 ton. ha-1. No cenário nacional, o estado de São Paulo se destaca como segundo maior produtor com uma produção em torno de 930 mil toneladas, atrás somente do estado de Goiás. Devido a produção em larga escala, a cultura sofre com a ocorrência de inúmeras pragas e doenças. Dentre elas pode-se destacar um grupo de insetos que aumentou a sua importância nos últimos anos, os tripes. Em razão do seu tamanho diminuto, a identificação da sua ocorrência pelo produtor pode ser demorada e com isso pode comprometer parte da produção em função dos danos diretos e indiretos da praga à cultura do tomateiro.
Características gerais
De maneira geral, são insetos de tamanho reduzido, com cerca de 1 a 3 milímetros de comprimento, aparelho bucal do tipo sugador. Seu ciclo biológico tem duração de aproximadamente 15 dias (ovo à adulto) com variação influenciada pela temperatura. A produção de ovos da fêmea varia de 20 a 100 ovos e a oviposição ocorre nos tecidos mais jovens da planta, a duração do período de ovos é de aproximadamente quatro dias. A forma jovem, conhecida como ninfa, não apresenta asas e é menor que o adulto. Uma particularidade importante da praga é que além de apresentar reprodução sexuada, também pode se reproduzir por partenogênese. As principais espécies de ocorrência no tomate são Thrips palmi Karny, 1925, Frankliniella occidentalis (Pergande, 1895) e Frankliniella schultzei (Trybom, 1910) (Thysanoptera: Thripidae). As injúrias causadas nas plantas envolvem a alimentação que se dá pela da sucção da seiva. Ao se alimentarem, injetam toxinas através da saliva, por esse motivo as folhas apresentam aspecto queimado ou prateado e pontuações escuras. Este sintoma é um indicativo do ataque da praga que pode auxiliar o produtor na identificação do inseto no início da infestação. O tripes se aloja principalmente em folhas, brotos, flores e frutos, sendo as flores a sua parte da planta de maior ocorrência.
Além de causar danos diretos na cultura do tomate, os tripes representam enormes problemas relacionados aos danos indiretos, como a transmissão de doenças viróticas, entre elas, doenças relacionadas a diferentes espécies de tospovírus, que constituem o complexo do vira-cabeça. Dentre as espécies de tospovirus transmitidas por tripes estão: Groundnut ringspot vírus (GRSV); Tomato chlorotic spot virus (TCSV) e Tomato spotted wilt virus (TSWV). A infecção do vírus ocasiona problemas no desenvolvimento da planta e pode provocar a morte, além de inviabilizar a produção de sementes. A infecção pode também favorecer a colonização de fungos através das lesões nas folhas. A combinação de todos esses danos contribui de forma significativa para a redução acentuada da produtividade da cultura.
Condições para ocorrência
A ocorrência de tripes na cultura do tomate acontece em estações do ano onde o clima é mais quente e com baixa pluviosidade e, também, em períodos de veranicos. As infecções nessas condições tornam-se mais sérias, e nesse cenário o controle ineficaz pode acarretar perdas a produção de aproximadamente 50 %.
Monitoramento e amostragem
Os insetos podem ser identificados através sinais de raspados bastante característicos nas folhas que formam manchas esbranquiçadas ou de coloração prateadas que, posteriormente, apresentam áreas com necroses e podem secar completamente se forem infectadas por outros patógenos. Para o monitoramento, pode-se verificar a presença de tripes nos ponteiros ou também a instalação de armadilhas adesivas de modo a auxiliar na tomada de decisão de controle da praga. É importante ressaltar que as armadilhas devem ser de coloração azul-royal. O método de amostragem utilizado é a “batedura” do ponteiro por planta sobre um recipiente plástico de fundo branco para a qualificação de insetos. Para tomate tutorado, os níveis de controle para cultivo no verão é de 0,5 tripes/ponteiro, na média das plantas amostradas. Para o cultivo de inverno, a média é um tripe por ponteiro, principalmente até 60 dias após o transplante das mudas.
Manejo
O método mais utilizado de controle do tripes na cultura do tomate é químico, através do uso de inseticidas em aplicações sequenciais, com duas pulverizações, em média, por semana, com um máximo de até quinze pulverizações por ciclo da cultura. Um dos grupos químicos mais utilizados para o controle são inseticidas neonicotinóides, pois apresentam rápida absorção e translocação (ação sistêmica) pelas plantas, mesmo em baixas doses, sendo eficiente contra os insetos sugadores das principais culturas. Outros grupos químicos são recomendados para o controle de tripes, dentre eles destacam-se inseticidas de amplo espectro de ação como piretróides, carbamatos e organofosforados.
No entanto, o uso do controle químico como única tática de controle promove a seleção de populações resistentes de tripes aos ingredientes ativos utilizados de maneira demasiada. No Brasil, relatos de populações resistentes foram reportados para ingredientes ativos do grupo das espinosinas. Todavia, em outros países existem relatos de resistência a vários grupos químicos, como organofosforado, piretróides, diamidas e reguladores de crescimento. Diante dos problemas associados à utilização demasiada de uma única tática de controle, existe a necessidade de se utilizar outros métodos, como o controle biológico conservativo através de agentes como crisopídeos (C. externa e C. cubana), percevejos (Geocoris, Nabis e Orius) e formigas predadoras. Além disso, no Brasil é comercializado um percevejo predador (Orius insidiosus) e um ácaro predador (Stratiolaelaps scimitus) para controle do tripes.
Outras medidas podem ser tomadas para reduzir a ocorrência da praga, como adubação de forma adequada, visto que o uso excessivo de fertilizantes, principalmente nitrogenados, favorecem o ataque do tripes. A irrigação também é importante para manejo da população de tripes, uma vez que plantas que se encontram em condição de estresse hídrico favorecem o ataque de tripes, neste sentido a eliminação daninhas que possam ser hospedeiros também se faz importante.
Diante do exposto, o tripes é uma praga de destaque na cultura do tomate, não por seu dano direto, advindo da alimentação, mas sim pela capacidade de transmitir viroses para a cultura, além da dificuldade de identificação da praga em função do seu tamanho diminuto. Com isso, monitorar e realizar o controle com diversas ferramentas é a maneira mais eficiente de controlar o tripes no tomateiro.
Joacir do Nascimento
Doutorando em Agronomia, Unesp/FCAV Campus de Jaboticabal.
Marcos Alan do Nascimento
Consultor especialista em HF da Coopercitrus