Viviani Silva Lirio
Poucos sabem, mas os calendários anuais de datas comemorativas – nacionais e internacionais –, que destacam, em dias específicos, pessoas ou temas de relevância social e econômica homenageiam, em mais de uma data, a força agrária em suas diferentes dimensões. Entre as datas mais visibilizadas, estão: internacionalmente, 20 de março, Dia Mundial da Agricultura, e 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação; no Brasil, 25 de fevereiro, Dia Nacional do Agronegócio, 28 de julho, Dia do Agricultor, e 17 de outubro, Dia Nacional da Agricultura. De fato, a pujança do agro – sua relevância social, econômica e cultural – possui tanto vigor que seria impossível desconsiderá-lo nas referências comemorativas. Por isso mesmo, acreditamos ser importante relembrar os motivos pelos quais esse setor merece deferência e respeito de toda a sociedade brasileira.
Iniciamos este texto com um convite à leitura, já que o tema é amplo e não pode ser comportado em um breve artigo de opinião, como este. No ano de 2019, antes do triste enfrentamento da pandemia de Covid-19 e dos dramas da guerra entre Rússia e Ucrânia, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária publicou uma obra muito interessante, intitulada “Geopolítica do Alimento: o Brasil como fonte estratégica de alimentos para a humanidade”. Na obra, os autores debatem, de uma maneira profunda e detalhada, suas perspectivas sobre a importância estratégica do Brasil no “mapa” da produção e da comercialização de alimentos. Entre as discussões, emergem, naturalmente, a força da estrutura agrária brasileira, as peculiaridades da qualidade do solo, a disponibilidade relativa de recursos hídricos, além de os desafios enfrentados em relação ao aumento da resiliência climática a eventos extremos, a importância da construção (ou integração) de cadeias globais de valor e outros temas de interesse.
Considerando o espaço reduzido para as breves reflexões que traremos, o destaque recai sobre o aspecto mais visível da contribuição do agro no Brasil: a sua contribuição objetiva e inquestionável para a sustentação da economia brasileira. As estatísticas, os estudos e mesmo a simples observação dão conta dessa realidade, mas é possível redimensionarmos um pouco melhor essas análises mais gerais e observarmos mais de perto a grandiosidade desse setor, cujos agentes labutam, todos os dias, incansavelmente. A esse respeito, todavia, é preciso fazermos uma distinção importante, cujos detalhes não cabem no presente artigo: uma atenção conceitual. É comum, quando buscamos estatísticas sobre um determinado tema, que haja grande variação de resultados. Isso se deve à forma como a informação foi contabilizada, os conceitos utilizados, entre outros fatores. Sobre essa questão, sugerimos a leitura do artigo publicado pela professora Nicole Rennó Castro, no qual há um maior detalhamento sobre o assunto. Voltando às estatísticas, observamos que, particularmente as obtidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, indicam que apenas a produção brasileira de cereais, leguminosas e oleaginosas, relativa à safra de 2021–22, atingirá a marca de 261,4 milhões de toneladas, com uma expansão de área superior a 4 milhões de hectares. Para a safra seguinte, 2022–23, as projeções da Companhia Nacional de Abastecimento são ainda mais promissoras, superando a casa dos 312 milhões de toneladas. Em termos de valor (estimativas do PIB do agronegócio e suas componentes), observamos que, mesmo frente aos desafios vivenciados recentemente, tais como a pandemia e a guerra entre Rússia e Ucrânia, o agro se manteve em expansão (Figura 1).
Além disso, em termos de participação do agro no Produto Interno Bruto brasileiro, se ampliarmos a visão do agro (de dentro da produção) para seu transbordamento na sociedade e economia, a participação anual média estimada, próxima a 5% entre os anos de 1995 e 2021 (dentro da porteira), amplia-se para quase 23% no mesmo período. Isso porque o agro se encontra entrelaçado a uma série de outros setores e, direta ou indiretamente, apoia e sustenta um conjunto de cadeias transversais, inclusive algumas não diretamente ligadas aos alimentos.
Em relação à geração de emprego, os dados indicam que, em 2022, se encontram empregadas diretamente no agronegócio brasileiro 19,09 milhões de pessoas, um aumento de mais de 800 mil em relação a 2021. Esse contingente representa aproximadamente 20% da força de trabalho empregada.
Essas breves estatísticas permitem observar que o agro – seja analisado em seu conceito mais estrito ou mais amplo – é fundamental para o Brasil. Deve ser lembrado com carinho e respeito todos os dias por toda a sociedade. O trajeto desconhecido do trabalho rural e agroindustrial que faz chegar, diariamente, o alimento à mesa merece ser mais que lembrado, deve ser reverenciado. Afinal, em tempos tão desafiadores como os que vivemos, o agro, diária e incansavelmente, trabalha com a produção mais preciosa: a sustentação da vida. Vivas à agricultura brasileira!