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Irrigação Brasileira: cenário atual e tendências para o futuro

Para começo de conversa, vamos definir o que é a irrigação. Essa técnica milenar serve para disponibilizar água a fim de suprir o requerimento hídrico das plantas, de forma total ou suplementar, e nada mais é do que um conjunto de técnicas, estruturas e equipamentos que provêm de maneira artificial o que as fontes naturais não conseguem atender. Em conjunto com outros manejos e tratos culturais, visam a máxima expressão do potencial contido nas culturas. Essa dinâmica por sua vez, foi aprimorada ao longo do tempo, até chegarmos aos sistemas modernos e de alta tecnologia que temos disponíveis hoje.  

Não podemos falar que existe um sistema de irrigação ideal. As recomendações são feitas a partir de um diagnóstico sobre a propriedade, levando em conta aspectos socioeconômicos, ambientais e a qualidade e disponibilidade da água no local. Atualmente, os métodos são categorizados segundo sua forma de aplicação da água, podendo ser: irrigação por superfície, subterrânea (ou subsuperficial), aspersão e localizada (ou micro irrigação). Além disso, dentro de cada grupo existem diferentes técnicas a depender das demandas e do nível tecnológico da lavoura, como os sistemas de inundação, o pivô central e o gotejamento, por exemplo.

Esses diferentes métodos trazem inúmeros benefícios para a produção agrícola: incremento da produtividade de 2 a 3 vezes a mais em relação ao sequeiro, uso do solo durante o ano todo, maior qualidade e padronização dos produtos, abertura de novos mercados, aumento do retorno financeiro, viabiliza a variedade de culturas de maior valor agregado, reduz os riscos de produção pela variabilidade do clima, aumento da oferta de alimentos, otimização de insumos e equipamentos, melhoria da segurança alimentar e a expansão da agricultura por meio da incorporação de novas áreas, uma vez que possibilita o plantio de diversas culturas em diferentes épocas do ano e tipos de solo.

Visto todas essas vantagens, a agricultura irrigada no Brasil vem aumentando ano a ano. No levantamento mais recente divulgado em 2021 pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) em parceria com outras entidades referências do setor agrícola, a segunda edição do Atlas da Irrigação mostrou que a área irrigada no país chega a atingir 8,2 milhões de hectares, dos quais 64,5% são irrigados com água de mananciais (5,3 milhões de hectares) e 35,5% com água de reuso (2,9 milhões de hectares). Desse total, os 28 polos nacionais de agricultura irrigada que foram mapeados no estudo concentram 50% da área irrigada e 60% da demanda hídrica atual para o setor.

Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o Brasil já é o sexto país com a maior área irrigada do mundo e a publicação da ANA revelou que nosso país deve expandir a irrigação em mais 4,2 milhões de hectares até 2040, um avanço de 79% em relação a área atual irrigada com água de mananciais. No entanto, apenas 22% de toda a área agropecuária do nosso país poderia ser irrigada, o que corresponde a cerca de 55 milhões de hectares, sendo 26,7 sobre áreas agrícolas de sequeiro, 26,7 sobre áreas de pastagens e 2,4 sobre áreas agropecuárias com disponibilidade hídrica subterrânea. Esse cenário mostra que, apesar do enorme potencial brasileiro, devido às limitações na oferta de água, faz-se extremamente necessário um planejamento e gestão dos recursos hídricos para que o crescimento da irrigação possa ser alcançado com sustentabilidade.

A agricultura irrigada experimentou um crescimento contínuo nas últimas décadas, mesmo durante períodos de instabilidade econômica no Brasil. Entre 2012 e 2019, houve um aumento significativo na atividade devido a ampliação de créditos e investimentos privados, o que acabou resultando em um crescimento anual de aproximadamente 4% durante o período, com a incorporação de cerca de 216 mil hectares irrigados por ano. Em 2019, o valor da produção irrigada ultrapassou a marca de R$ 55 bilhões.

É de se orgulhar o empenho do Brasil diante da modernização dos seus sistemas produtivos, a irrigação é mais um exemplo de como continuamos a reinventar os modelos agrícolas para incrementar a produção com a utilização cada vez mais consciente e sustentável dos recursos naturais. Que possamos continuar torcendo pelo nosso agro, porque fazer isso é jogar a favor do Brasil!

Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP (Ribeirão Preto – SP) da FGV (São Paulo – SP) e da Harven Agribusiness Scholl (Ribeirão Preto – SP). É especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em DoutorAgro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).

Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração pela FEA-RP/USP e Instrutor “In Company” na Harven Agribusiness School. É especialista em comunicação estratégica no agro.

Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.

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